sexta-feira, 10 de junho de 2022

Servir: expressão ou objetificação?


Subservir 

Virou objeto 

De desejo 

De enfeite


Objetificada 

Ferida


Servir 

Ser e vir 

Cortesia e amor 

O próprio



Para além de uma expressão, o servir é uma das grandes artes do feminino e uma das imagens que o representa é a gueixa.

Servir se refere à generosidade, à graciosidade, à delicadeza, à sutileza, à cortesia e ao refinamento

Ao longo da história, mulheres de diversas culturas e tradições se tornaram mestras no servir. Tanto em seus lares, quanto fora deles, nas mais variadas formas de cuidados para os quais eram solicitadas, seja com a saúde, a educação e artes, entre outros. Para além do conceito do serviço e utilidade, o servir aqui é se dispor para o momento presente, uma vez que em nosso servir trazemos conforto, ordem e beleza.

Ao longo das transformações sociais e com o subjugamento da mulher por uma cultura dominadora e opressora, o servir da mulher foi objetificado, relegando-a ao nível de subserva. Em subserviência, passamos a atender aos comandos e desejos impostos. Um desses exemplos é a figura da gueixa, a guardiã das artes em sua concepção original. Esta, contudo, acabou sendo distorcida e hoje vem carregada de apelo sexual devido a fetichização da sua imagem.

Nesta expressão é importante refletirmos sobre as diferenças entre o servir e o subservir. O feminino torna-se subserviente quando colocado a serviço dos desejos e manipulações de uma cultura em desequilíbrio, ao passo que o servir sincero se expressa em genuinidade e sinceridade, transpondo comandos externos. Assim, no servir há sinceridade nas atitudes, sem o desejo de agradar pelo medo ou coerção.

Servir em essência é estar à disposição e em toda sua inteireza, de modo a ser para o mundo aquilo que se é. Mostrar o melhor de si e estar a serviço com seus talentos únicos sem a necessidade de mudar sua essência para agradar externamente. O servir baseado no medo não é servir.

Há aqueles que por meio da subjugação tentam conquistar o servir de uma mulher, mas acabam recebendo um servir vazio. A subserviência raramente gera completude e, por essa razão, cria o desequilíbrio do qual decorre a objetificação e os abusos.

Servir também tem relação com a compreensão dos limites e nos proporciona observar nossa auto-estima. Por isso, para vivenciar o servir, vale observarmos como estamos sendo gentis e cordiais conosco mesmas e com nossos sentimentos.

Em japonês a expressão omotenashi origina-se da tradição da cerimônia do chá e se refere a esse sentimento com o qual realizamos para o outro. Um simples detalhe nas ações, quando realizadas com carinho, faz imensa diferença àquele que recebe. A sinceridade com que realizamos algo é percebida nesses detalhes que nos chegam mais através dos sentidos do que de maneira racional. Omotenashi é colocar o melhor de si e agradecer com atitudes. Servir e omotenashi estão intimamente ligados e suas sutilezas e podem nos levar a descobertas bem como nos inspirar no dia a dia.


Sugestões Práticas

Experimente servir-se de um chá feito com carinho e capricho; preparado por você e para você.

Sirva-se um jantar com sua receita favorita, desfrutando da sua própria companhia, em uma atmosfera preparada com beleza e ouvindo uma música que lhe agrade.

Pratique primeiramente o autoservir e a autogentileza, para depois estender o servir ao outro.

Experimente o servir ao outro com um sentimento sincero, manifestando atenção carinhosa aos detalhes e ao sentimento de agradecimento.


Este trecho composto por: ilustração em aquarela, poesia, descrição e sugestão prática é um dos 45 capítulos do livro SHINGUETSU NO MINE- O LUAR REFLETE NA ESPADA- Oráculo das expressões do feminino e sabedorias orientais da autora Fabiana Higa

Saiba mais em: aqui

 

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